Chamada para publicação Cadernos PET Filosofia v. 24, n. 1

Submissões até 26 de setembro de 2023

A Comissão Editorial da revista Cadernos-PET Filosofia comunica a abertura do prazo para a submissão de artigos, resenhas e traduções para o próximo número.

Desterramento megazord

Propor uma edição com o tema “brasilidades” traz um incômodo. Como delimitar o que se entende por Brasil? O que é a cultura brasileira? Existe algo propriamente brasileiro? Seria uma definição geográfica, social, cultural, artística? Quais imagens vêm à cabeça quando pensamos sobre literatura brasileira ou música brasileira? E a língua, o português brasileiro, o que ela fala e escreve sobre nós? O que é pintado nos quadros dos artistas, relatado pelos cronistas, ou cantado pelos sambistas? Qual pincelada retrata, qual expressão denota, qual nota dá o tom do Brasil?… E, no entanto, até onde podemos buscar uma identidade brasileira sem cair em romantismos ufanistas ou patriotismos fascistas? 

Propor uma edição com o tema “brasilidades” traz um incômodo. Aparentemente, a brasilidade tem tantas camadas que descuidado é aquele que acredita reunir sua totalidade em uma obra de arte, em um ensaio sociológico, em um filme, em uma música, ou em uma revista de filosofia. Com efeito, o lugar denominado “Brasil” abarca tanta criatividade, tanta reatividade, tanta história, tanta novidade, tanta vida, tanta morte. Todavia, essa vasta extensão da condição brasileira também parece pedir que não se delimite demais do que se fala — com o risco de se “esquecer” do Brasil. A condição brasileira, ou melhor, as condições brasileiras, o existir no Brasil, é um existir carregado de contradições.

Propor uma edição com o tema “brasilidades” traz um incômodo. Quando nos deparamos com o desafio de delinear a cultura brasileira, somos confrontados com uma multiplicidade de influências e diversidades que permeiam nossa história. A vastidão territorial e a miscigenação contribuem para a formação de uma nação multifacetada. Como, então, poderíamos limitar nossa cultura ou nosso povo a uma mera definição? Como pensar essa multiplicidade sob o signo da unidade? Quanta alteridade um país é capaz de absorver sem destruir? Não queremos homogeneizar. Há tantos brasis. Mas o que afinal determina que o baião e o samba, a feijoada e o tacacá, Oxum e Nossa Senhora Aparecida fazem parte de uma mesma coisa? Talvez seja mais proveitoso reconhecer a abundância que compõe nosso país e nosso povo, acolhendo orgulhosamente a diversidade como parte intrínseca de nossa identidade coletiva.

Propor uma edição com o tema “brasilidades” traz desconforto, um cômodo incômodo. É como um clipe da Karol Conka no parque de diversões do Barigui antes e depois do BBB. É como um comício nos Arcos da Lapa antes e depois do Mano Brown. É como um show de auditório na Rádio Tupi antes e depois da Elza Soares. É como um verdadeiro banquete de Agatão, antes e depois do Mário de Andrade. É um misto servido em pão francês, acompanhado de um café preto no copo americano, enquanto Davi Kopenawa descasca pacientemente um abacaxi. Mas se é pra tombar, mesmo que não seja dia de festa no planeta fome, que seja no terreno que nóis tá vendo memo: vale Gâteaux de Dúvidas, vale Quindins de Críticas e vale Sandwiches a Mestres do Passado. Só não vale dar o troféu para o nosso algoz. Afinal, como diz o Emicida sobre o que significa, presentemente, se considerar um sujeito de sorte, tudo que nóis tem é nóis.

Propor uma edição com o tema “brasilidades” traz um desconforto. Apesar disso, pensamos, imaginamos, duvidamos, sonhamos, desejamos, experienciamos, ouvimos e falamos de um lugar, um campo simbólico em disputa. Ao elaborar nossas narrativas, poéticas e políticas, (r)existimos. Contamos mais um conto, aumentamos um ponto. Sonhamos mais um sonho, adiamos o fim. 

Quem chama?

Cadernos-PET Filosofia é um periódico acadêmico, ligado ao Departamento de Filosofia da UFPR, e está sediada no sétimo andar do edifício Dom Pedro II. Feita por estudantes e para estudantes, através da gestão ativa do Grupo PET, foi publicada pela primeira vez em 1999. A revista é avaliada pelo sistema Qualis, da CAPES, com revisão por pares às cegas, e todas as suas edições estão disponíveis, na íntegra. É gratuita para quem publica e para quem lê.

A edição “brasilidades” da revista Cadernos-PET Filosofia UFPR é fruto dos incômodos suscitados durante o ciclo de estudos realizado pelo grupo PET, entre 2022 e 2023, cuja tutoria coube ao Leandro Neves Cardim e ao Antonio Edmilson Paschoal. A narração coletiva de alguns desses desconfortos é também um convite para pesquisadorxs do âmbito da graduação e da pós-graduação, tanto de Filosofia como de suas áreas afins, expressarem outros (in)cômodos através de materiais inéditos em formato de artigos, resenhas ou traduções.

#praCegoVer Colagem fotocopiada de um copo americano e um pão francês, seguidos do título “brasilidades” e do subtítulo “volume 24, número 1”.

Orientações para autorxs

As submissões devem ser feitas pela Biblioteca Digital de Periódicos da UFPR (https://revistas.ufpr.br/petfilo) , seguindo os seguintes passos:

Fazer o cadastro na plataforma, escolhendo a opção de perfil “autor“; * (a confirmação por email leva, geralmente, mais do que 30min para chegar. Então, é interessante iniciar o cadastro antecipadamente);

Após o login, escolher a opção “enviar nova submissão”, na categoria pretendida (por ex.: “artigos”, “traduções”, “resenhas”)

Antes de encaminhar o seu texto, verifique as normas do Cadernos PET-Filosofia/UFPR: [https://revistas.ufpr.br/petfilo/information/authors].

A revista receberá propostas nos seguintes formatos:

1.1. Artigos: até 12.000 palavras, incluindo referências bibliográficas e notas.

1.2. Resenhas: até 5.000 palavras, incluindo referências bibliográficas e notas, de obra publicada nos últimos 5 anos.

1.3. Traduções: considerar a relação com a temática do número e a autorização necessária para a publicação da tradução.

Em caso de dúvidas, nos escreva: <pet.filosofia@ufpr.br>.

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